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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Humanismo

Tem uma aranha, uma aranhinha, que resolveu fazer casa na janela do box do meu banheiro. Nos primeiros segundos, pensei em expulsá-la, em seguida, matá-la e depois, como casa de moradia que aceita hóspede, ela foi ficando. Alguns dias parece querer avançar a teia, outros, parece que se escondeu pelos vãozinhos quebrados do azulejo. Na última semana, subiu, resolveu içar teia no canto superior da janela, como quem estivesse querendo se despedir, ao mesmo tempo, que me observa enquanto estou no banho em condição natural de nascença. Não, não é a minha intimidade que revindico, apenas quero entender melhor o que significamos um para o outro. Seria eu, inimigo? Será que me ignora? Tem medo de mim?
Hoje notei que alguns mosquitinhos estavam presos em sua teia no teto e num relance, enquanto esperava o chuveiro aquecer, vi um deles ser surpreendido por um fulminante ataque, seguido de rodopios e movimentos aracnídeos de opressão à presa. Nem vacilei, enchi as bochechas d'água e como um atirador de elite que salva o inocente, disparei na direção do conflito. Ela recuou na teia, analisando as possibilidades de travar um combate e logo em seguida, assumiu sua condição de perdedora. Gosto que ela saiba que é uma intrusa, que tenho a preferência no box, porque ela é uma aranha, que mata para viver, diferente de mim, que dou aulas.
Fato foi que, depois, percebi que os mosquitos presos acima, não estavam tão presos assim, e que a teia que ela constrói é bem menor do que eu pensava. Talvez, até, esteja com fome e não deva comer há dias, pois os mosquitinhos são bem rápidos. Acho que senti pena e pensei que ela não gostaria que eu tivesse esse sentimento por ela, já que é tão orgulhosa e inacessível em sua morada. Cogitei jogar um mosquitinho mais próximo a ela, porém, seria bem difícil conseguir isso, além do que eu já disse, aranhas são orgulhosas como gatos e gostam de ter suas presas vivas no momento da apreensão. Isso me parece um pouco de crueldade.